Combinação de métodos de imagem amplia a precisão e personaliza o cuidado cirúrgico

Na rotina do cirurgião vascular, a escolha adequada da ferramenta diagnóstica, especialmente diante das inovações tecnológicas, pode ser determinante não apenas para o acerto terapêutico, mas também para a segurança e personalização do cuidado. A integração entre métodos não invasivos, como a ultrassonografia com Doppler, e exames de maior complexidade, como a angiotomografia (angio-TC) e a angioressonância (angio-RM), vem se consolidando como estratégia essencial no manejo das doenças vasculares.

Para o cirurgião vascular e membro do Conselho Fiscal Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), Dr. Rafael de Athayde Soares, o Doppler segue sendo uma ferramenta insubstituível na avaliação funcional e anatômica em tempo real, com aplicações amplas que vão da avaliação de carótidas ao acompanhamento de acessos vasculares para hemodiálise. “O Doppler permite o acompanhamento dos pacientes com trombose venosa profunda em tratamento com anticoagulantes, assegurando informações importantes como a recanalização venosa, bem como as sequelas venosas da trombose, tais como insuficiência venosa profunda e refluxos venosos. Aliado à portabilidade e ao baixo custo, o exame se mantém como ferramenta de triagem de primeira linha”, pontua.

O cirurgião vascular e membro titular da SBACV-SP, Dr. Celso Bregalda Neves complementa que “a ultrassonografia com Doppler se tornou uma extensão do exame físico do cirurgião vascular”, o que reforça seu papel não apenas na investigação inicial, mas também no seguimento longitudinal de pacientes com trombose venosa profunda ou insuficiência venosa crônica.

Avanços recentes ampliaram ainda mais a aplicabilidade do método, especialmente com o uso do contraste com microbolhas (CEUS – Contrast-Enhanced Ultrasound). Essa técnica vem ganhando espaço em indicações específicas, como caracterização de lesões hepáticas, avaliação da perfusão cardíaca e acompanhamento pós-operatório de aneurismas de aorta abdominal (EVAR). Segundo Dr. Rafael, “O CEUS tem se mostrado eficaz, especialmente na detecção de endoleaks tipo II, com a vantagem de não utilizar radiação nem contraste iodado, apresentando um perfil de segurança superior, inclusive em pacientes com disfunção renal”, reforça.

Embora o Doppler apresente vantagens claras, existem situações em que exames como a angiotomografia e a ressonância magnética são indispensáveis para um diagnóstico mais detalhado e planejamento terapêutico. O Dr. Celso esclarece que “a angiotomografia é fundamental para o diagnóstico e o planejamento do tratamento de aneurismas arteriais, dissecções aórticas e obstruções arteriais complexas, enquanto a ressonância magnética, por sua maior sensibilidade, é essencial na avaliação de isquemia cerebral aguda e lesões em tecidos moles”. Essas modalidades também são valiosas no acompanhamento a longo prazo de pacientes submetidos a procedimentos endovasculares, auxiliando na detecção precoce de complicações.

As diretrizes atuais, reforçadas pelas Sociedades Brasileiras como SBACV, CBR e SBC, indicam um uso escalonado dos métodos conforme a complexidade clínica. Dr. Celso destaca que “o Doppler deve ser priorizado sempre que possível, mas em casos de aneurismas complexos ou vasculites, por exemplo, a tomografia ou ressonância se tornam exames de escolha”. Para o acompanhamento da trombose venosa profunda, o Doppler venoso permanece como padrão ouro de primeira linha, enquanto a angiotomografia torácica é o exame preferido para suspeita de tromboembolismo pulmonar.

Além do diagnóstico, as imagens obtidas por esses métodos são fundamentais para o planejamento cirúrgico, especialmente em casos de intervenções complexas. “Com a visualização tridimensional precisa da anatomia vascular, o cirurgião pode planejar abordagens mais seguras, antecipar dificuldades e otimizar o procedimento”, ressalta Dr. Celso. Esse planejamento detalhado contribui para cirurgias mais rápidas, com menor tempo de anestesia e menor risco de complicações.

A tecnologia de reconstrução tridimensional (3D) e a navegação por imagem já são realidade em centros de referência. A criação de modelos digitais e impressos em 3D a partir de angiotomografia, segundo o Dr. Celso, permite a simulação da cirurgia e facilita a navegação dos dispositivos endovasculares, reduzindo o tempo operatório e aumentando a precisão. Durante o procedimento, a reconstrução 3D em tempo real favorece a orientação precisa dos instrumentos, minimizando riscos.

O futuro do diagnóstico vascular, considerando a evolução da inteligência artificial (IA) e a integração de dados, é promissor. Para o Dr. Celso, a automação e a inteligência artificial vão tornar o diagnóstico mais eficiente e assertivo, permitindo que o médico dedique maior atenção à decisão clínica do que à interpretação das imagens. A IA poderá auxiliar na identificação automática de achados relevantes, priorização de exames críticos e combinação de informações clínicas e imagéticas para predições personalizadas, melhorando ainda mais a segurança e eficácia dos tratamentos.

Em resumo, a ultrassonografia com Doppler permanece como base da avaliação vascular, sendo um exame acessível, portátil e eficaz, especialmente com a incorporação do CEUS. Já a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são imprescindíveis para o diagnóstico detalhado, planejamento e acompanhamento de casos complexos, com destaque para o uso crescente da reconstrução 3D e tecnologia de navegação. A contínua evolução tecnológica, aliada à inteligência artificial, aponta para um cenário onde o diagnóstico vascular será cada vez mais preciso, personalizado e integrado, resultando em cuidados mais seguros e efetivos para os pacientes.

Dr. Rafael de Athayde Soares

Dr. Celso Ricardo Bregalda Neves