Para o presidente do Cremesp, Dr. Angelo Vattimo, é essencial definir diretrizes éticas e critérios rigorosos de segurança em parceria com órgãos federais antes de usar IA na prática clínica

A inteligência artificial (IA) na saúde tem avançado rapidamente em todo o mundo, e o Brasil vem ganhando destaque graças a seus centros de excelência em diagnóstico por imagem, robótica cirúrgica e telemedicina. Segundo o presidente do Cremesp, Dr. Angelo Vattimo, “o país está posicionado como um ator fundamental nesse mercado bilionário”.

Porém, o avanço tecnológico precisa caminhar lado a lado com segurança e responsabilidade. Para o Dr. Vattimo, é fundamental que as soluções de IA atuem como copilotos do médico — tão importantes quanto exames de ressonância magnética ou tomografia computadorizada — ampliando a capacidade analítica, mas sem, jamais, substituir o julgamento clínico. Esse equilíbrio é essencial para preservar a autonomia profissional e garantir a segurança do paciente. “A inteligência artificial tem o potencial de acelerar diagnósticos e tratamentos, ampliando a precisão e personalizando o cuidado, mas a decisão final sempre deve caber ao médico.”

O Cremesp reforça seu compromisso com a inovação responsável e destaca a importância da regulamentação clara para o uso da IA na saúde. “É indispensável estabelecer diretrizes éticas, normas de validação e critérios rigorosos de segurança antes da incorporação dessas tecnologias na rotina clínica, com a atuação conjunta entre Cremesp, órgãos federais e sociedades de especialidades”, afirma Dr. Vattimo.

Além disso, a capacitação contínua dos profissionais é indispensável. O presidente ressalta que promover treinamentos e certificações que permitam aos médicos compreender vieses, limitações e riscos das tecnologias é fundamental para que a inteligência artificial complemente o cuidado e preserve a autonomia profissional.

Entre os principais benefícios da IA na prática clínica, Dr. Vattimo destaca a velocidade e a escala: “Hoje, a IA possibilita o processamento de milhares de exames em minutos, algo que manualmente levaria horas ou até dias”. Ele também ressalta a maior precisão na detecção de padrões sutis em imagens, que aumenta a assertividade diagnóstica, e a personalização do cuidado, com cruzamento de históricos e fatores de risco para definir protocolos terapêuticos mais adequados a cada paciente.

Contudo, o presidente alerta para os riscos do mau uso da IA: “Vieses, manipulações ilícitas e a sobredependência tecnológica podem comprometer o cuidado, fazendo com que o médico perca o hábito de questionar achados clínicos. Por isso, o Cremesp defende que a IA funcione como ferramenta auxiliar, sempre sujeita à revisão médica. A decisão final deve ser do profissional. A IA é um copiloto que acelera diagnósticos e libera tempo para a relação médico-paciente, mas jamais deve assumir o volante do raciocínio ou das mãos firmes dos cirurgiões.”

Os limites éticos e legais são outros aspectos cruciais. “Os mesmos princípios aplicados a qualquer software médico devem valer para a IA, com atenção especial aos dados sensíveis e decisões críticas. O cumprimento rigoroso da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) — com consentimento informado, anonimização e protocolos robustos de segurança — é fundamental. Transparência e explicabilidade dos processos algorítmicos são essenciais para evitar ‘caixas-pretas’ e permitir que médicos e pacientes compreendam as bases das recomendações.”

Ainda segundo o Dr. Vattimo, o Cremesp acompanha o desenvolvimento do AI Act europeu, legislação que classifica as aplicações em saúde como de “alto risco” e exige testes clínicos e monitoramento contínuo. “Queremos garantir que o marco regulatório brasileiro incorpore as melhores práticas internacionais, protegendo a vida, a privacidade e a autonomia dos pacientes.”

Formação e regulamentação: prioridades para o futuro

Com o objetivo de preparar os médicos para essa nova realidade, o Cremesp promoveu em agosto o 1º Treinamento em Inteligência Artificial em Medicina. O evento apresentou soluções tecnológicas maduras disponíveis, discutiu os limites éticos e legais da tecnologia e estimulou a atualização constante dos profissionais.

Dr. Vattimo destaca que “essa formação técnica e ética fortalece o uso correto da IA e assegura a segurança no cuidado”. Durante o treinamento, houve debates aprofundados sobre regulamentação, incluindo análise do AI Act europeu, modelos de protocolos para validação e responsabilidade, e adaptação às normas brasileiras. “O Cremesp já planeja transformar esses debates em guidelines e resoluções próprias, orientando médicos e clínicas paulistas para uma adoção segura, ética e alinhada às melhores práticas internacionais”.

Para equilibrar inovação, segurança do paciente e autonomia médica, o presidente recomenda educação contínua, protocolos rigorosos de supervisão, governança compartilhada, cultura de transparência e pesquisas clínicas sólidas que gerem evidências robustas. “Assim, formamos profissionais críticos, criamos barreiras de segurança e mantemos o médico como protagonista, livre para inovar, mas sempre guiado pelo cuidado e pela autonomia.”

Critérios para avaliação de soluções de IA em saúde

Ao avaliar soluções de inteligência artificial para instituições de saúde, Dr. Vattimo orienta que investidores e gestores priorizem:

  • Maturidade clínica e evidências científicas: validar estudos publicados e provas de conceito que demonstrem ganhos em acurácia, tempo de diagnóstico ou desfechos clínicos.
  • Regulamentação e conformidade: verificar adesão à LGPD, normas da Anvisa e resoluções do CFM; ferramentas classificadas como “alto risco” exigem atenção a prazos e custos de certificação.
  • Governança de dados: conferir políticas de armazenamento, criptografia e acesso, além de auditorias independentes de segurança.
  • Suporte e adoção clínica: garantir treinamentos práticos, materiais de apoio e indicadores de engajamento da equipe para medir barreiras de uso.
  • Foco no paciente e responsabilidade médica: manter o cuidado centrado no paciente, com comunicação transparente sobre o uso da IA e preservação da autonomia do médico.

“Com esses critérios, é possível escolher tecnologias que promovam inovação sem comprometer a qualidade do cuidado e a confiança na decisão médica. Em resumo, enxergamos a IA na saúde como uma revolução — uma alavanca de valor para pacientes e profissionais — desde que adotada com responsabilidade, respaldo normativo e foco na complementaridade ao raciocínio médico”, conclui Dr. Vattimo.

Dr. Angelo Vattimo

Presidente do CREMESP