Incorporação de tecnologias não está isenta de limitações e riscos que merecem atenção
A digitalização dos serviços de saúde, bem como a adoção da Telemedicina, configura uma transformação substancial nos modelos tradicionais de atenção médica, promovendo avanços significativos, embora acompanhados de desafios relevantes. A implementação de tecnologias digitais permite a informatização de prontuários clínicos, a interoperabilidade entre sistemas, o monitoramento remoto de condições clínicas e a utilização de análises de dados em larga escala para tomada de decisão.
A Telemedicina, por sua vez, amplia o acesso à assistência médica, especialmente em áreas geograficamente isoladas ou com déficit de profissionais, além de reduzir custos operacionais e otimizar recursos, tanto do ponto de vista institucional quanto do usuário. Tais instrumentos apresentam elevado potencial para promover maior eficiência, resolutividade e equidade no sistema de saúde.
Entretanto, a incorporação dessas tecnologias não está isenta de limitações e riscos que merecem atenção. A digitalização demanda infraestrutura tecnológica adequada, conectividade estável e profissionais capacitados, o que pode acentuar disparidades regionais e sociais, especialmente em localidades com baixa inclusão digital. Além disso, a segurança da informação assume papel central nesse processo, dado o risco de vazamento de dados sensíveis que comprometam a privacidade dos pacientes e exponham instituições e profissionais a implicações éticas e legais. A dependência crescente de sistemas informatizados também levanta preocupações quanto à possível redução da dimensão humana do cuidado, uma vez que a tecnologia, por si só, não substitui a empatia e a escuta ativa nas relações assistenciais.
No que tange à Telemedicina, diversos desafios técnicos, clínicos e normativos se impõem. Embora a modalidade seja eficaz para triagens, seguimentos clínicos e orientações gerais, sua aplicabilidade é limitada em contextos que exigem exame físico detalhado, procedimentos diagnósticos presenciais ou intervenções terapêuticas complexas. Ademais, a ausência de uniformização regulatória em âmbito nacional e internacional pode dificultar a padronização de práticas e comprometer a segurança jurídica dos profissionais. Também se destacam as lacunas existentes nos critérios de remuneração e na valorização do trabalho médico realizado por meio de plataformas digitais, o que pode impactar a adesão e a sustentabilidade da prática.
Diante desse cenário, é imperativo que a expansão da digitalização e da Telemedicina na saúde seja orientada por políticas públicas consistentes, investimentos estruturantes e uma regulação clara e ética. A formação continuada dos profissionais da saúde e a promoção da alfabetização digital da população também são elementos essenciais para a efetiva inclusão e utilização segura dessas ferramentas. Somente com uma abordagem equilibrada, que alie inovação tecnológica, responsabilidade social e humanização do cuidado, será possível garantir que tais avanços contribuam de forma positiva e sustentável para a melhoria dos serviços de saúde e para a ampliação do acesso da população a uma assistência de qualidade.

Dr. Fábio Bonafé Sotelo
Diretor de Defesa Profissional da SBACV-SP