Campanha incentiva especialistas a incluírem o exercício físico na rotina e destaca ganhos na saúde mental, precisão clínica e qualidade do sono

Embora sejam os principais defensores da saúde, muitos médicos enfrentam desafios para incorporar hábitos saudáveis em sua própria rotina. De acordo com a pesquisa Qualidade de Vida dos Médicos, realizada pelo Research Center da Afya — maior hub de educação em saúde e healthtechs do Brasil —, 59% dos médicos brasileiros não praticam exercícios físicos regularmente. O dado revela uma contradição preocupante: muitos profissionais ainda têm dificuldade em aplicar a si mesmos os cuidados que recomendam aos pacientes.

“Mesmo sabendo da importância do exercício físico, encaixar isso na rotina médica nem sempre é simples. Cuidar de si não deve ser visto como um privilégio ou uma concessão, mas como um pilar essencial para que possamos exercer nossa vocação com excelência e saúde”, afirma o vice-presidente da Afya, Dr. Gustavo Meirelles.

Essa dificuldade de conciliar o autocuidado com a prática médica se torna ainda mais crítica em especialidades de alta complexidade. No dia a dia dos cirurgiões vasculares, por exemplo, esse cenário é especialmente sensível. A especialidade exige raciocínio clínico rápido, atenção prolongada, habilidade motora fina e preparo físico e emocional. No entanto, muitos ainda negligenciam a própria saúde.

O cirurgião vascular Dr. Regis Campos Marques, praticante de natação desde a infância por recomendação médica, devido a alergias respiratórias, encontrou no esporte uma ferramenta fundamental para preservar o equilíbrio físico e mental. “A prática da natação é uma terapia não somente física, mas também mental. Durante os treinos, há total foco na respiração e nos movimentos diante da hidrodinâmica, o que contribui diretamente para a concentração, inclusive na prática cirúrgica”, explica. 

Dr. Regis destaca que a falta de preparo físico impacta diretamente a performance médica. “O condicionamento inadequado faz com que a pessoa se sinta cansada mais rapidamente, prejudicando a disposição, a concentração e até a capacidade de tomar decisões com clareza”, afirma. Em sua visão, o principal obstáculo para a adoção de uma rotina ativa é a própria estrutura da profissão. “A rotina incessante de trabalho gera fadiga física e mental, diminuindo o ímpeto da prática desportiva.”

Além dos benefícios corporais e cognitivos, ele reforça o impacto positivo da atividade física na qualidade do sono. “O exercício ajuda a regular o ritmo circadiano e favorece a produção de melatonina nos horários corretos. Também reduz o tempo necessário para adormecer, aprofunda o sono e alivia sintomas de insônia, especialmente quando praticado pela manhã ou à tarde.”

Outro aspecto que merece destaque, segundo o médico, é a coerência entre discurso e prática. “O estilo de vida do profissional de saúde deve ser compatível com aquilo que se prega. O médico precisa dar o exemplo, sobretudo o cirurgião vascular. Estimular os pacientes a deixar o sedentarismo e o tabagismo passa também por uma postura inspiradora do profissional.”

Ciente desses desafios, a Afya lançou a campanha Médicos em Movimento, com o objetivo de incentivar o autocuidado entre profissionais da saúde. “Quando incentivamos o cuidado de quem cuida dos outros, todos ganham: médicos, pacientes e a sociedade em geral”, afirma Meirelles. 

A campanha promove ações práticas, como desafios de corrida em grupo por meio da plataforma Strava, e gestos simbólicos, como a distribuição de meias magenta — símbolo de um compromisso coletivo com o bem-estar. “Mais do que alertar para o problema, queremos inspirar uma mudança real”, resume Dr. Meirelles. 

A expectativa é clara: transformar o autocuidado em parte integrante do exercício da medicina. E, como lembra Dr. Regis: “Estar bem é parte da responsabilidade que temos com os nossos pacientes. Não é um luxo, é um dever profissional.”

Recomendações da campanha Médicos em Movimento para cirurgiões vasculares enfrentarem o sedentarismo:

  • Trate a atividade física como um compromisso médico pessoal — inclua na agenda como faria com um procedimento;
  • Prefira exercícios que tragam prazer e se encaixem na rotina, como natação, caminhada, corrida ou musculação;
  • Valorize o impacto do exercício na precisão clínica, clareza mental e qualidade do sono;
  • Participe de grupos com colegas para estimular constância e socialização fora do ambiente hospitalar;
  • Lembre-se: cuidar da própria saúde também é um ato de responsabilidade médica.
Dra. Grace Mulatti

Dr. Gustavo Meirelles

Dr. Regis Campos Marques