Dra. Vivian Masutti Jonke explica o impacto das soluções digitais no diagnóstico, planejamento e acompanhamento na Cirurgia Vascular
O mercado de inteligência artificial em saúde deve movimentar US$ 613 bilhões até 2034 — um montante que, segundo especialistas, vai muito além de uma simples tendência econômica. Para a médica cardiologista Dra. Vivian Masutti Jonke, referência em inteligência artificial e fundadora da Dragão Digital, “esses números refletem uma transformação profunda na forma como cuidamos das pessoas”.
Segundo ela, para os médicos, essa revolução significa contar com um apoio robusto para diagnósticos, tomadas de decisão e gerenciamento dos pacientes. Já para as instituições de saúde, representa maior eficiência, redução de desperdícios e a abertura para novos modelos de negócio — sempre com foco na segurança e no bem-estar dos pacientes.
A Dra. Vivian aponta três motores que impulsionam o avanço dessas tecnologias: a necessidade de ampliar o cuidado diante da escassez crescente de profissionais qualificados; a digitalização cada vez mais abrangente dos dados clínicos, que possibilita melhor organização, segurança e qualidade no atendimento; e a valorização do paciente como protagonista de seu cuidado, o que demanda maior personalização, agilidade e eficiência. “As ferramentas inteligentes conectam esses três pilares e permitem entregar valor em larga escala”, reforça.
Na prática da Cirurgia Vascular, essas transformações já são visíveis, especialmente em áreas como diagnóstico por imagem, triagem de risco e gestão de recursos hospitalares. Essa mudança redefine o papel do médico, que deixa de ser um “decisor solitário” para se tornar um “condutor estratégico” apoiado por dados e tecnologia. “A prática clínica continua soberana — a decisão final nunca será entregue às máquinas —, mas teremos muito mais instrumentos para tomar as melhores decisões”, ressalta.
As soluções digitais aplicadas ao diagnóstico vascular são amplas e promissoras. “A tecnologia pode atuar desde a segmentação automática dos vasos até a previsão de eventos adversos após cirurgias. Com algoritmos treinados para identificar padrões em exames com mais precisão e rapidez, é possível personalizar o planejamento cirúrgico e o acompanhamento, reduzindo complicações e aumentando a previsibilidade da jornada do paciente”.
Outro avanço fundamental, segundo a médica, é a escalabilidade dessas soluções, que leva o cuidado individualizado para além dos grandes centros urbanos. Por meio de plataformas digitais e aplicativos, clínicas remotas podem realizar triagens inteligentes, receber alertas automáticos e contar com suporte à decisão baseado em dados demográficos. Isso transforma o cuidado personalizado de um privilégio urbano em uma diretriz de equidade.
Ainda assim, a confiança nos sistemas de apoio à decisão clínica permanece um desafio para muitos médicos. A especialista destaca critérios objetivos para avaliar e incorporar essas ferramentas: validação clínica robusta com estudos publicados, transparência dos modelos e dados utilizados, aderência às diretrizes médicas, integração aos fluxos de trabalho e, sobretudo, supervisão humana constante. “Essas tecnologias devem ser parceiras do médico, nunca substitutas”.
No campo vascular, ela aponta três soluções como as mais promissoras para o futuro: segmentação vascular automatizada para planejamento cirúrgico, modelos preditivos para risco de reestenose ou outras complicações e gestão ambulatorial via dashboards inteligentes que integram dados clínicos, imagens e exames laboratoriais. Tais inovações prometem aprimorar o cuidado longitudinal e a segurança do paciente.
Porém, existem desafios para a adoção ampla dessas tecnologias, incluindo resistências culturais e tecnológicas, preocupações éticas, falta de maturidade digital dos profissionais e a sensibilidade dos dados clínicos. “Para avançar, é fundamental investir em educação, regulamentação clara e projetos estruturados”.
A transformação digital exige ainda uma evolução no papel do médico. “É preciso que ele deixe de ser um executor de procedimentos e se torne um estrategista do cuidado. Isso requer raciocínio clínico mais sofisticado, fluência digital e habilidades de gestão, sem jamais abrir mão da empatia e da escuta ativa — elementos insubstituíveis na relação com o paciente”, pontua.
Como educadora, a Dra. Vivian destaca que competências digitais essenciais para médicos que desejam liderar ou integrar projetos inovadores incluem letramento em dados para interpretar informações e dialogar com dashboards, fluência em ferramentas inteligentes, como modelos generativos e automações, e uma mentalidade de design e inovação para cocriar soluções multidisciplinares.
Para médicos gestores, as maiores oportunidades para aplicar essas tecnologias estão na redução de glosas, automatização do faturamento, gestão de desfechos clínicos e aprimoramento da experiência do paciente por meio de agendamentos inteligentes e comunicação personalizada. “Esses avanços aumentam os resultados positivos e otimizam o fluxo financeiro. Além disso, as tecnologias digitais promovem sustentabilidade nos sistemas de saúde ao reduzir desperdícios, automatizar tarefas repetitivas e evitar exames e internações desnecessárias. Sustentabilidade é fazer mais com o mesmo, mas com qualidade”, explica.
Ao olhar para 2034, a médica visualiza uma saúde mais conectada, preditiva e centrada na jornada do paciente, na qual as tecnologias estarão invisivelmente presentes para embasar as decisões médicas. “O médico do futuro será ainda mais humano, pois saberá usar essas inovações a seu favor”.
Ela enfatiza ainda a importância de uma ética médica ampliada, que leve em conta justiça algorítmica, equidade e transparência. “O Código de Ética precisará evoluir, e os profissionais devem acompanhar essa transformação”.
Dra. Vivian reforça que essa transformação digital precisa ser feita com o médico, e não contra ele: “Quando falo em humanizar a inteligência artificial, é sobre isso. Não podemos nos prender à lógica da substituição, ou pensar em quem vai sair perdendo mais. Na minha opinião, a mentalidade correta deve ser: o que eu vou poder oferecer de melhor para os meus pacientes com a IA? Médicos, cientistas de dados e gestores precisam trabalhar juntos para garantir que essa tecnologia seja segura, eficaz e centrada nas pessoas. O futuro da medicina não é tecnológico. Ele é humano, mas agora com o reforço poderoso do que há de mais inovador na tecnologia. Todos os avanços na medicina sempre foram assim, e continuarão sendo.”






