Hemangiomas e malformações vasculares podem afetar os recém-nascidos
Especialista esclarece que são patologias distintas, com complexidade e tratamentos diferentes. Diagnóstico correto é fundamental para que a família e o paciente possam começar a compreender a condição e para que o médico possa traçar um planejamento adequado de terapia
Os hemangiomas e as malformações vasculares periféricas (MVPs) são conhecidas como anomalias vasculares, e possuem características muito diferentes. Enquanto os hemangiomas são tumores benignos mais comuns na infância, que se proliferam a partir das primeiras semanas de vida e têm crescimento rápido nos primeiros meses, e depois diminuem, a partir do 6º ao 12º mês de vida, as malformações vasculares são estruturas displásicas (malformadas), não tumorais, que se desenvolvem no período embrionário e crescem junto com o indivíduo.
A cirurgiã vascular e vice-diretora Científica da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), Dra. Luísa Ciucci Biagioni, explica que, como são patologias distintas e com evolução e tratamentos diferentes, é essencial saber classificá-las. “O diagnóstico correto é fundamental para que a família e o paciente possam começar a compreender a condição e para que o médico possa traçar um planejamento adequado de tratamento, que pode variar desde observação clínica até uma intervenção com cirurgia ou embolizações. Muitos pacientes são submetidos a tratamentos inadequados. Às vezes, há sequelas e complicações graves, como sangramentos e lesão de estruturas saudáveis, como nervos e músculos,” esclarece a Dra. Luísa.
No caso dos hemangiomas, as lesões são abauladas, com coloração rosa ou avermelhada (aspecto de morango), apresentando vasos finos na superfície e, às vezes, um círculo pálido ao redor. Eles acometem principalmente meninas em uma proporção de 4:1, sendo mais frequentes na região da face e do tronco, e os mais extensos podem deixar cicatrizes esbranquiçadas na pele e vasinhos superficiais.
Já as malformações vasculares periféricas (MVPs) provocam formação de vasos sanguíneos ou linfáticos anômalos. Às vezes, pode estar acompanhada de outras deformidades como hipertrofia do membro, alterações musculares e esqueléticas, alterações neurológicas ou oculares.
Segundo a especialista, algumas anomalias vasculares podem estar associadas a problemas de outras estruturas, como a síndrome de Sturge-Weber (caracterizada por malformação capilar na face, glaucoma e irregularidades vasculares intracerebrais) e a síndrome de Klippel-Trenaunay (venosa, capilar e hipertrofia do membro acometido).
Dra. Luísa ressalta que, felizmente, a maioria dos pacientes com hemangioma infantil não desenvolve comprometimentos significativos. Apenas uma pequena parte apresenta problemas como úlceras, sangramentos ou infecções. “Sabemos que as lesões próximas ao olho ou nas pálpebras, ponta do nariz e região genital podem apresentar maior taxa de complicações, como prejuízo no desenvolvimento das estruturas locais e ulcerações. E no caso das malformações vasculares, quando extensas, podem ter complicações como infecção, sangramento, tromboembolismo venoso, prejuízo na locomoção e dor crônica”, sinaliza.
Segundo a médica, uma vez que são condições ainda sem cura, o foco do tratamento é controlar as complicações, melhorar a qualidade de vida e reduzir as lesões sempre que possível. “Após avaliação clínica e exames complementares, definimos as prioridades de tratamento em conjunto com a família e o paciente. Para algumas condições, optamos apenas pelo acompanhamento clínico, enquanto para outras utilizamos terapias com medicamentos analgésicos, anticoagulantes ou terapias específicas. Lesões menos graves podem ser tratadas por cirurgiões especializados em problemas vasculares. Já para malformações vasculares como venosas, linfáticas ou arteriovenosas, podemos recorrer a tratamentos percutâneos ou endovasculares, dependendo da extensão, localização das lesões e sintomas apresentados pelos pacientes”, explica a médica.