Dr. Edwaldo Edner Joviliano e Dra. Grace Mulatti compartilham da visão que a rotina de um especialista exige equilíbrio entre preparo técnico, decisões rápidas e sensibilidade humana
A Cirurgia Vascular exige do médico habilidades técnicas apuradas e, acima de tudo, sensibilidade para lidar com as complexidades humanas presentes no atendimento aos pacientes. Para quem está iniciando na especialidade, compreender a rotina diária, os desafios e as boas práticas assistenciais, que combinam conhecimento científico e empatia, é fundamental para construir uma carreira sólida e ética.
O presidente da SBACV-SP, Dr. Edwaldo Edner Joviliano, explica que o seu dia típico é uma combinação equilibrada entre assistência, ensino e pesquisa. Para ele, a Cirurgia Vascular, pela sua natureza, exige flexibilidade para lidar com urgências e situações imprevistas. Por isso, alterna atendimentos ambulatoriais — desde consultas rotineiras até casos crônicos complexos — com atividades hospitalares, cirurgias eletivas e emergências. Em clínicas privadas, sua rotina inclui visitas, curativos, avaliações pré-operatórias e discussões de exames.
Nesse contexto dinâmico, surgem diversos desafios práticos que permeiam o dia a dia do cirurgião vascular. Entre eles, a necessidade de equilibrar qualidade do atendimento com limitações de tempo e infraestrutura, o que exige preparo técnico e serenidade para decisões rápidas diante de recursos limitados. Além disso, a importância da atualização científica e tecnológica constante, mesmo com uma agenda intensa, é crucial para o especialista. Outro ponto relevante é o conhecimento em gestão, essencial para a manutenção das clínicas privadas, embora pouco abordado na formação médica básica.
Diante desses desafios, a tomada de decisão clínica se torna um momento fundamental na prática. Dr. Edwaldo afirma que combina protocolos baseados em evidências com a experiência prática acumulada. Em urgências, segue critérios técnicos claros, mas também se apoia na sensibilidade clínica para captar nuances que os exames não revelam, sempre priorizando a segurança do paciente, o prognóstico e, quando possível, envolvendo a família.
Além das decisões técnicas, o contato humano com o paciente é primordial para o sucesso do tratamento. Ele ressalta que a confiança nasce da escuta atenta e da comunicação clara: “Procuro explicar cada etapa do diagnóstico e do tratamento, ajustando a linguagem ao perfil do paciente. E, em casos crônicos ou de maior risco, a empatia e a disponibilidade para esclarecer dúvidas são essenciais para o sucesso do tratamento e fortalecimento do vínculo.”
Dr. Edwaldo também defende que o trabalho em equipe precisa ser uma realidade constante para um melhor entendimento dos casos clínicos. O diálogo com a Angiologia, Clínica Médica, Radiologia Intervencionista, Cardiologia, Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia garante um cuidado integral ao paciente.
E para alinhar essas práticas assistenciais, que são indispensáveis na rotina do médico, é preciso adotar protocolos claros para triagem e atendimento, como padronização de fluxos em urgências vasculares, documentação minuciosa no prontuário, uso racional de exames complementares e foco na prevenção de complicações. Além disso, uma avaliação inicial estruturada, que define a gravidade do caso e direciona o fluxo de atendimento, otimiza o tempo e evita transtornos ao paciente.
Outro aspecto que permeia a prática diária são os dilemas éticos que exigem a sensibilidade do especialista. Os mais frequentes envolvem decisões sobre intervenções invasivas em pacientes idosos com múltiplas comorbidades. “É fundamental ponderar risco e benefício, respeitando a autonomia do paciente e envolvendo a família nas decisões. A comunicação de más notícias deve ser feita com clareza, empatia e acolhimento, mantendo o equilíbrio entre ética e humanidade”, aconselha.
Para os jovens cirurgiões vasculares, a experiência de quem já atua na área oferece orientações valiosas. Dr. Edwaldo enfatiza a importância de cultivar resiliência, desenvolver habilidades para o trabalho em equipe, manter a curiosidade científica e aprender a lidar com as incertezas. Além disso, reforça que a busca constante por atualização e a firme adesão à ética profissional são indispensáveis para garantir uma prática médica responsável e de qualidade.
Ao recordar seu início de carreira, ele compartilha uma reflexão importante: “A Cirurgia Vascular não exige apenas habilidade técnica, também requer paciência, empatia e perseverança. O aprendizado precisa ser contínuo, e o reconhecimento profissional vem com o tempo. A chave é nunca perder o entusiasmo pelo que se faz.”
A visão da Dra. Grace Mulatti
Para a diretora científica da SBACV-SP, Dra. Grace Mulatti, a rotina na especialidade também se divide entre múltiplas frentes: atendimento assistencial, pesquisa e ensino no SUS, com foco em emergências e cirurgias de alta complexidade — áreas que representam seu maior desafio, mas que também traz o prazer em aprender e ensinar diariamente. Na prática privada, ela ainda se dedica à gestão administrativa e financeira de sua clínica.
Entre outros importantes desafios enfrentados, destaca-se o acesso desigual à tecnologia, essencial tanto para as terapias venosas e arteriais quanto para o diagnóstico. “Em centros menores, a limitação da infraestrutura e a capacitação das equipes podem restringir as opções terapêuticas disponíveis”, afirma.
Na tomada de decisão clínica, Dra. Grace destaca a importância do equilíbrio entre experiência e discernimento, lembrando que “cada caso é único”. Ela ressalta que “decisões em equipe, especialmente em hospitais universitários, agregam diferentes perspectivas e fortalecem a conduta médica”. Para situações sensíveis é recomendável a escuta ativa para compreender os medos e expectativas dos pacientes e seus familiares antes de apresentar as opções de tratamento.
No relacionamento com o paciente, a transparência e a tomada de decisão compartilhada são pilares fundamentais. Segundo ela, “mesmo quando a melhor conduta é não operar, é fundamental oferecer opções e explicar os motivos com clareza”.
A atuação multidisciplinar é indispensável, envolvendo especialidades como Psicologia, Enfermagem, Fisioterapia e outras. “Em casos de maior complexidade, como pacientes amputados ou recém-operados, o suporte integral é essencial para o sucesso do tratamento”, salienta.
Entre as boas práticas que adota, Dra. Grace destaca a organização de fluxos para atendimento de emergência e protocolos de acompanhamento para doenças ainda não cirúrgicas, como aneurismas de aorta, além de terapias que exigem monitorização contínua, como stents e endopróteses. Ela também enfatiza estratégias para melhorar os desfechos clínicos, incluindo orientações nutricionais, incentivo à atividade física, controle rigoroso dos fatores de risco e protocolos de reabilitação acelerada no pós-operatório.
No campo ético, os dilemas mais comuns que enfrenta incluem amputações, cirurgias de alto risco e traumas vasculares.
Para os jovens profissionais que ingressam na área, Dra. Grace aconselha: “Não se deve tentar se encaixar em modelos prontos; é importante descobrir o que realmente faz sentido para cada um e buscar cercar-se de pessoas que o desafiem a ser melhor.”
Ela complementa que é fundamental valorizar o autoconhecimento e a autenticidade na carreira: “É valioso entender o que você gosta de verdade, sem tentar se encaixar em fórmulas prontas, pois ninguém tem a chave do sucesso absoluto. Cada um precisa descobrir seu próprio caminho. Procure mentores e pessoas que o inspirem e o motivem a evoluir constantemente.”

Dra. Grace Mulatti

Dr. Edwaldo Edner Joviliano
Presidente da SBACV-SP




