Pé Diabético

Release Pé diabético – cuidados – 14-06-2023

Estima-se que ao longo da vida cerca de 30% dos pacientes desenvolvam úlceras, que se não diagnosticadas e tratadas corretamente podem trazer riscos como amputações

Apesar de se manifestar com maior incidência em pessoas mais velhas, o TEV também pode acometer os mais jovens

A prevalência de pessoas com pé diabético vem crescendo progressivamente ao longo dos anos devido ao aumento mundial de casos de diabetes melittus (DM). O termo pé diabético abrange uma série de alterações e complicações que acomete a saúde dos pacientes diabéticos. É uma doença que precisa ser compreendida adequadamente para um diagnóstico rápido, tratamento eficaz e acompanhamento.

O Brasil é o 5º país em incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos (20 a 79 anos), perdendo apenas para China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. A estimativa é que a doença, até 2030, chegue a 21,5 milhões. Esses dados estão no Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF). O diabetes é uma doença metabólica que causa alteração no funcionamento geral do organismo. O pé diabético está presente nos dois tipos de diabetes, tanto no tipo 1 quanto no tipo 2, pois as complicações estão relacionadas à patologia.

O angiologista, cirurgião vascular e diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), Dr. Akash Kuzhiparambil Prakasan, esclarece que as mudanças metabólicas causam danos aos nervos e aos vasos, e conduz a uma insensibilidade dos pés, com a atrofia da musculatura intrínseca que provoca uma deformidade com a possibilidade de desenvolver uma calosidade, um machucado e, em algumas situações mais graves, uma amputação – a depender do comprometimento tecidual e fatores associados ao doente -, inclusive provocar a morte do paciente. “É uma doença extremamente prevalente em nosso meio e que causa cerca de uma mutilação a cada 30 segundos no mundo. Números gritantes que chamam para uma ação imediata deste problema de saúde pública”, declara o especialista.

As diretrizes médicas, tanto nacionais quanto internacionais, estão apoiadas em vasta literatura da medicina e atuam nas diversas etapas, desde a prevenção até a abordagem cirúrgica, seja com a limpeza das feridas, com a necessidade de amputações menores e maiores, até a correção da deformidade que leva à ulceração do pé. O Dr. Akash reforça que o acompanhamento multidisciplinar, com participação e envolvimento de algumas áreas e profissionais da saúde, é de extrema importância.

As especialidades envolvidas no tratamento destes pacientes são preparadas, mas existem alguns obstáculos. “Os recursos disponíveis em manuais da gestão pública, e no mundo real, estão distanciados. Temos uma dificuldade de atender estes pacientes no tempo adequado e controlar os fatores de riscos envolvidos. Tenho observado um nítido aumento do número de amputações na nossa rotina diária pós-pandemia. Os problemas nos pés são responsáveis por mais internações hospitalares do que quaisquer outras complicações em pacientes com diabetes. Estima-se que ao longo da vida, cerca de 30% dos pacientes desenvolvam úlceras. A compreensão das causas desses problemas permite o reconhecimento precoce de pacientes com alto risco. Foi demonstrado que até 50% das amputações e úlceras nos pés do diabético devem ser evitadas por meio de identificação, agilidade no diagnóstico e educação eficazes”, afirma Dr. Akash.

Estudos envolvendo pacientes com úlcera no pé cicatrizado mostram que sinais precoces de lesões na pele, como calos abundantes, bolhas ou hemorragia, estão entre os prognósticos mais fortes de recorrência. Se estas lesões pré-ulcerativas forem identificadas em tempo hábil, é provável que a cura delas previna muitas recidivas. Fatores biomecânicos, como as pressões a que o pé descalço é submetido, no calçado e o nível de adesão ao uso de calçados prescritos também são importantes na recorrência de úlceras na superfície plantar do pé́. Como esses motivos biomecânicos são alteráveis, o procedimento adequado pode ter papel importante na prevenção.

Existem várias medidas que podem ajudar a proteger o paciente. O primeiro passo é controlar o diabetes de forma adequada. Além disso, é essencial adotar precauções para evitar lesões nos pés, tais como: cortar as unhas corretamente, tratar infecções fúngicas entre os dedos (micoses interdigitais, que facilita a entrada de infecções), manter a pele hidratada, usar calçados adequados e optar por meias de algodão ou tecidos que permitam a respiração dos pés. A recomendação é evitar o uso de meias apertadas ou com costuras internas que possam causar atrito e lesões na pele. As consultas regulares a profissionais de saúde, para que possam identificar alterações precoces, são fundamentais.

“A maioria das pessoas tem algum familiar ou amigo que possui diabetes. Se não prestarmos atenção e não fornecermos orientações adequadas, essas pessoas correm o risco de ter sua qualidade de vida significativamente comprometida devido às complicações decorrentes do diabetes. É fundamental oferecer suporte e gerenciar para garantir uma melhor saúde e bem-estar para aqueles que convivem com a doença”, enfatiza o médico.

Segundo o presidente da SBACV-SP, Dr. Fabio H Rossi, a situação atual e as perspectivas futuras são extremamente preocupantes: “Apesar de os dados estatísticos nacionais não serem confiáveis, dados do DATA-SUS e a percepção geral indicam que houve um aumento preocupante no número de amputações dos membros inferiores nos últimos anos. O Ministério da Saúde alerta que o Brasil é o quinto pais em incidência de diabetes no Mundo. Estima-se que em 2030 teremos 21,5 milhões de acometidos. Uma das complicações mais graves dessa doença é a aterosclerose e a doença arterial obstrutiva periférica, um problema inicialmente silencioso, que se não diagnosticado e tratado a tempo, pode levar à isquemia crítica e amputação do membro. Mas, a principal consequência é que esses pacientes apresentam altíssimo risco de AVC, Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e morte cardiovascular”.

Dr. Fabio também reforça que essa doença tem um elevado índice de óbito e também traz um alto custo econômico de tratamento. Por isso é muito importante a conscientização da população e dos profissionais de saúde sobre a necessidade do controle dos níveis glicêmicos, e o encaminhamento dos pacientes portadores de obstruções arteriais ao cirurgião vascular para o acompanhamento e a intervenção quando for necessário.