Envolvimento de uma equipe multidisciplinar – incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas – potencializa os resultados clínicos

O sucesso de uma cirurgia vascular vai muito além do que acontece na sala de operações. Para os médicos em formação ou no início da carreira, é fundamental compreender que o acompanhamento pós-operatório é uma etapa decisiva para consolidar os resultados e promover uma recuperação segura e eficaz. Segundo os cirurgiões vasculares Dr. Marcelo Moraes e Dr. Marcelo Matielo, esse cuidado contínuo é fundamental para evitar complicações e garantir uma boa qualidade de vida ao paciente.

Embora eventos adversos possam ocorrer em qualquer procedimento médico, um acompanhamento bem estruturado tem papel essencial na prevenção de agravamentos, na redução de internações não planejadas e na melhora dos desfechos clínicos. “Entre os colegas, é comum o jargão: ‘só não tem complicações quem não faz o procedimento’. Isso é estatístico. Obviamente, todas as medidas possíveis devem ser tomadas para minimizar tais problemas, e, entre elas, o pós-operatório estruturado é essencial”, afirma Dr. Moraes. Ele destaca ainda que o descuido nessa fase pode resultar não apenas em infecções e tromboses, mas também nas falhas do tratamento proposto, exigindo reoperações ou mesmo levando à perda dos objetivos da intervenção.

A Cirurgia Vascular e Endovascular abrange uma ampla gama de procedimentos, cada um com indicações específicas e abordagens distintas. O Dr. Marcelo Matielo ressalta que até mesmo uma mesma condição pode ser tratada por diferentes métodos, o que exige um olhar individualizado para cada caso. Em cirurgias de varizes, por exemplo, é essencial monitorar sinais como dor intensa nas pernas, aumento do volume do membro, vermelhidão, febre e elevação da temperatura local, que podem indicar complicações pós-operatórias.

Já nas cirurgias arteriais convencionais, os principais indícios de complicações incluem vermelhidão nas incisões, inchaço, febre e pontos de sangramento. Em procedimentos endovasculares, o paciente deve ficar atento a sangramentos, abaulamentos ou hematomas extensos no local da punção. Além disso, em qualquer cirurgia arterial, independentemente da técnica utilizada, sinais como dor, diminuição da temperatura e palidez nos pés podem indicar complicações graves. Dr. Matielo reforça ainda a importância da comunicação constante entre paciente e equipe médica: “Todo paciente submetido a uma intervenção deve ter acesso à equipe que está realizando o tratamento.”

A prevenção de complicações como infecções e tromboses começa já no intraoperatório, mas se estende ao ambiente hospitalar, ambulatorial e domiciliar. O estímulo à deambulação precoce, o manejo adequado de curativos, a adesão ao esquema medicamentoso (como dupla antiagregação após angioplastias ou anticoagulação em casos de trombose venosa aguda) e a automonitorização por parte do paciente e seus cuidadores formam a base dos cuidados pós-operatórios bem-sucedidos. “Quanto mais cedo iniciamos qualquer tratamento, maior a chance de ele ser eficaz, rápido, seguro e com menor custo”, reforça Dr. Moraes.

A recuperação, no entanto, não é igual para todos os casos. De acordo com Dr. Matielo, procedimentos minimamente invasivos podem ter um tempo de recuperação mais rápido, mas isso não diminui a necessidade do acompanhamento. Esse monitoramento é decisivo para evitar complicações em longo prazo. No caso de cirurgias de revascularização arterial, por exemplo, o Dr. Marcelo Matielo alerta para consequências críticas quando o pós-operatório é negligenciado: Amputações menores ou maiores dos membros, acidente vascular cerebral em doenças carotídeas e ruptura de aneurisma de aorta abdominal. O pior de tudo é o óbito do paciente.

Quanto ao momento em que o paciente pode ser considerado totalmente recuperado, Dr. Matielo faz uma distinção importante entre recuperação clínica e a continuidade da doença vascular: “Na cirurgia venosa, consideramos recuperação quando o paciente está assintomático e sem marcas. Nas cirurgias arteriais, é quando as feridas cicatrizaram, o paciente está sem dor e retomou sua vida sem limitações. Mas não podemos afirmar que está curado. As varizes podem recidivar, e a aterosclerose é uma doença evolutiva. Por isso, o acompanhamento deve ser contínuo, com frequência determinada pelo quadro de base”.

Além disso, o envolvimento de uma equipe multidisciplinar – incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas – também potencializa os resultados clínicos, desde que as funções estejam bem definidas. “Um exemplo clássico é o manejo de feridas vasculares, em que a abordagem conjunta favorece condutas mais eficazes e evita conflitos de orientação — e representa uma excelente oportunidade de aprendizado para os jovens profissionais, que acompanham de perto as decisões clínicas”, conclui Dr. Moraes.

Outro ponto essencial diz respeito à saúde emocional do paciente durante o processo de recuperação. “A doença, seja qual for, leva em diferentes graus a certa dependência física, emocional ou até mesmo financeira — além do óbvio sofrimento relacionado à dor”, destaca Dr. Moraes. “Muitos pacientes, especialmente os idosos, desenvolvem quadros depressivos após procedimentos mais debilitantes. Essa combinação de fatores pode comprometer a adesão ao tratamento e dificultar a continuidade dos cuidados, impactando diretamente nos resultados da cirurgia.”

Dr. Marcelo Fernando Matielo

Dr. Marcelo Fernando Matielo

Dr. Marcelo Rodrigo de Souza Moraes

Dr. Marcelo Rodrigo de Souza Moraes