Projeto bem estruturado otimiza o atendimento, melhora a segurança dos procedimentos e cria um ambiente mais acolhedor para pacientes e equipe assistencial

A arquitetura tem um impacto direto na experiência do paciente, pois influencia a percepção do ambiente e a qualidade do atendimento. Um espaço bem planejado pode reduzir a ansiedade, proporcionar conforto e tornar o percurso dentro da clínica mais intuitivo. No caso dos consultórios de Cirurgia Vascular — especialidade que envolve exames complexos, alta demanda tecnológica e perfis específicos de usuários —, o projeto arquitetônico precisa considerar uma série de particularidades. Aspectos como o tipo de procedimento realizado, as tecnologias envolvidas e as necessidades individuais de cada médico devem ser contempladas desde a concepção do local que, além da estética, deve contribuir para um atendimento mais eficiente, seguro e humanizado.

Para o médico, arquiteto e proprietário da Medine Arquitetura Hospitalar, Dr. Gustavo Zoghbi, cada elemento do recinto conta e interfere diretamente no comportamento das pessoas. “Desde a infância, sempre me fascinou como o ambiente pode influenciar emoções e atitudes — e foi isso que me levou a escolher a arquitetura como profissão”, revela.

Ele destaca que, em contextos de saúde, esse impacto é ainda mais relevante. “Os usuários estão muitas vezes debilitados física ou emocionalmente, e projetar áreas amplas, bem iluminadas, ventiladas, com elementos de biofilia e zonas de convívio melhora significativamente o bem-estar, tanto dos pacientes quanto dos profissionais que atuam na clínica. E esta harmonia se reflete diretamente na recuperação e na qualidade do cuidado prestado” enfatiza.

Funcionalidade, conforto e viabilidade: o equilíbrio ideal

Segundo o Dr. Gustavo, um dos maiores desafios enfrentados na concepção de clínicas de Cirurgia Vascular é equilibrar conforto com rentabilidade. “Muitas vezes, busca-se aproveitar ao máximo o metro quadrado disponível para incluir o maior número possível de áreas geradoras de receita, como consultórios e salas de exames”, afirma. No entanto, ele alerta que espaços como salas de espera amplas e jardins internos são indispensáveis para o bem-estar. Encontrar esse ponto de equilíbrio entre funcionalidade, acolhimento e viabilidade financeira é um dos grandes segredos de um bom projeto.

Um dos conceitos-chave para clínicas de Cirurgia Vascular é o fluxo interno bem estruturado. “Fluxo é a palavra-chave quando se fala desse tipo de arquitetura. Corredores amplos, áreas de espera bem distribuídas e consultórios posicionados de forma a evitar cruzamentos desnecessários são aspectos fundamentais. Além disso, o layout precisa garantir acesso rápido e prático a equipamentos e materiais, o que promove agilidade e segurança aos procedimentos”, explica o médico.

Dr. Gustavo ressalta que a iluminação natural é outro fator que merece atenção. “Ela melhora o humor e o bem-estar dos pacientes e da equipe, reduz a sensação de confinamento e promove um ambiente mais acolhedor”. Ele também reforça que materiais de fácil higienização são indispensáveis para evitar a propagação de infecções, e o conforto acústico reduz ruídos indesejados, tornando o ambiente mais tranquilo.

Outro ponto importante é a acessibilidade, como rampas com inclinação adequada, portas largas, banheiros adaptados e mobiliário ergonômico, que são medidas primordiais para o conforto e a inclusão de todos os pacientes. Assim como a setorização correta dos ambientes, que vai evitar deslocamentos desnecessários, tornando a circulação mais eficiente”, complementa.

Tendências e futuro da arquitetura em saúde

A integração entre tecnologia e arquitetura é uma das principais tendências do setor. “Soluções como automatização de processos, uso de inteligência artificial e sistemas digitais de atendimento vêm transformando o modelo tradicional de clínicas. A sustentabilidade também está em alta, com o uso de materiais ecológicos e o aproveitamento de luz natural como forma de reduzir o consumo energético”, enfatiza o médico.

O conhecimento técnico e normativo é um diferencial essencial na arquitetura hospitalar. “Como arquiteto e médico, tenho a expertise necessária para integrar as exigências da Anvisa, do Ministério da Saúde e das normas locais à funcionalidade e ao conforto dos espaços. E sigo aplicando esses princípios com rigor, assegurando que cada projeto atenda plenamente às regulamentações vigentes”, explica Dr. Gustavo.

Por fim, a integração entre tecnologia e arquitetura tem se consolidado como um fator determinante para qualificar o atendimento em saúde. “No futuro, não haverá mais a necessidade de balcões para entrega de exames, pois tudo será acessado digitalmente. Consultas on-line já são realidade, e os resultados de exames estão cada vez mais rápidos”, assegura.

Dr. Gustavo afirma que adota o conceito de projeto eficiente, que combina fluxos otimizados, inovação tecnológica, bem-estar e rentabilidade. E sua missão é entregar projetos que unam conhecimento técnico, normativa e sensibilidade para criar locais que realmente façam a diferença no cuidado com a saúde.

Projeto une excelência médica e ensino

Nos últimos quatro anos, a clínica do cirurgião vascular Dr. Sergio Belczak passou por uma transformação completa. Conforme surgiram novas demandas e o volume de atendimentos cresceu, tornou-se necessário adequar os espaços para comportar essa expansão. Foram incorporadas novas especialidades, como Pediatria, Terapia Infusional em Psiquiatria, Geriatria, Medicina do Esporte, entre outras. Além disso, o espaço também precisou ser reorganizado para acompanhar o crescimento das atividades de ensino, tanto as promovidas pela própria equipe, quanto as realizadas por terceiros que utilizam a clínica para fins educacionais.

O processo de reforma enfrentou diversos desafios, especialmente relacionados à burocracia. A localização da clínica, na tradicional Avenida Pacaembu, impôs uma série de restrições legais e exigiu a aprovação de protocolos por órgãos como a Prefeitura, Anvisa e Secretaria da Cultura. A fachada, por exemplo, passou por diversas alterações no projeto para atender às exigências de tombamento, o que atrasou consideravelmente a conclusão das obras. Outro ponto sensível foi a manutenção do funcionamento da clínica durante as intervenções: foi preciso lidar com barulho, presença constante de operários e a necessidade de manter os ambientes limpos e organizados em meio à obra.

Conforto e funcionalidade na jornada do paciente

Desde o início do projeto, houve uma atenção especial ao conforto e à experiência do paciente. O objetivo foi criar um ambiente acolhedor, mas, sobretudo, funcional. A jornada do paciente foi cuidadosamente pensada: na sala de espera, por exemplo, são exibidos vídeos educativos com os próprios médicos da casa abordando temas de saúde. A recepção foi reorganizada e ganhou uma sala exclusiva para atendimento telefônico e confirmação de consultas, evitando a sobrecarga no balcão principal. Além disso, foram criadas três salas de espera distintas, com o intuito de separar os perfis de atendimento – como pacientes pediátricos, pessoas em terapia infusional ou que realizam curativos –, promovendo mais conforto, organização e privacidade.

Estrutura acadêmica integrada à assistência

No que diz respeito ao ensino, a clínica foi estruturada para que as atividades acadêmicas ocorressem em paralelo aos atendimentos médicos. Foram construídos dois auditórios, salas para demonstrações práticas e um estúdio para gravações de cursos on-line e podcasts. “Os alunos podem acessar esses espaços sem precisar passar pelas áreas de atendimento, o que assegura uma dinâmica independente entre as duas frentes. Um espaço externo foi reservado para os intervalos e coffee break dos cursos, ou seja, esses momentos não interferem no fluxo assistencial da clínica”, revela Dr. Belczak.

A preocupação com o bem-estar da equipe também esteve presente. Antes da reforma, os funcionários não dispunham de um local apropriado para descanso. Agora, contam com uma sala de conforto equipada com sofás reclináveis e televisão, onde podem relaxar em seus horários de folga com mais qualidade.

Arquitetura pensada por quem vive a rotina médica

Para clínicas de alta complexidade, como as que realizam cirurgias vasculares avançadas, a atenção às normas de segurança e às exigências sanitárias é fundamental. Segundo o Dr. Belczak, é imprescindível contar com arquitetos experientes nesse tipo de projeto, já que muitos detalhes técnicos acabam passando despercebidos até mesmo pelos próprios médicos. Por isso, o engajamento dos profissionais de saúde durante a concepção do projeto arquitetônico é considerado essencial. “É importante ter o feedback de médicos e pacientes sobre os pontos positivos e negativos, pois influencia diretamente nas decisões durante a reforma. As vivências dos médicos ajudam a estruturar uma clínica mais ágil e resolutiva. Por exemplo, as demandas de pacientes que exigem um turnover rápido — como trocas de curativos, aplicação de espuma ou avaliações pós-operatórias — nos levaram a posicionar essas salas no primeiro andar. Já os atendimentos com turnover mais lento — como exames de Doppler e sessões de fisioterapia vascular — ficaram concentrados no segundo andar”, explica.

O ambiente físico também exerce grande influência sobre a percepção dos pacientes. Uma clínica bem estruturada transmite uma imagem de competência e solidez, ativa gatilhos mentais, como o da prova social. Isso gera uma sensação de confiança e segurança, especialmente quando se trata de procedimentos vasculares.

Decoração com memória afetiva

Além de toda a estrutura, um detalhe que torna a clínica especialmente única está na decoração. Para o Dr. Belczak, os elementos herdados de seus pais carregam uma memória afetiva valiosa. “Na minha opinião, os itens de decoração que herdei dos meus pais tornam o nosso ambiente em algo muito especial, único! Sem contar na memória afetiva para mim… Lá temos obras de arte de artistas nacionais renomados, como Juarez Machado e Ademir Martins, vasos, esculturas, um grande lustre de cristal e até uma armadura medieval.”